O papa Francisco disse numa entrevista divulgada nesta quarta-feira (2) na Itália que antes de aceitar a sua eleição pontifícia sentiu uma “grande luz”, apesar de não se considerar um “místico”.
"Uma grande luz invadiu-me, durou apenas um momento, embora me tenha parecido imenso tempo. Assim que a luz desapareceu, levantei-me e dirigi-me à sala onde os cardeais me esperavam e para a mesa onde estava a ata de aceitação. Assinei-a, o cardeal camerlengo assinou e depois na varanda foi o ‘Habemus Papam’", relatou, a respeito dos momentos que precederam a sua aparição em público como papa, no dia 13 de março deste ano.
Francisco disse ao fundador do jornal "La Reppublica", Eugenio Scalfari, que quando a escolha dos cardeais reunidos em Conclave recaiu sobre si, pediu para se retirar "alguns minutos" numa sala ao lado da varanda sobre a Praça de São Pedro. “A minha cabeça estava completamente vazia e uma grande ansiedade tinha-me invadido. Para a fazer passar e relaxar fechei os olhos e desapareceu qualquer pensamento, incluindo o de recusar-me a aceitar o cargo”, recorda.
O papa diz não ter a “vocação” de místicos como São Francisco de Assis (c. 1181-1226), que inspirou a escolha do seu nome, tornando-se o primeiro a fazê-lo. "Francisco queria uma ordem mendicante e também itinerante, missionários em busca do encontro, da escuto, do diálogo, da ajuda, da difusão da fé e do amor, sobretudo amor. E sonhava com uma Igreja pobre que tomasse conta dos outros, que recebesse ajuda material e a utilizasse para apoiar os outros, sem qualquer preocupação consigo mesma", observa.
O sucessor de Bento XVI lembra o Papa alemão para falar da sua devoção por Santo Agostinho (354-430), apresentando a “intuição” do bispo e doutor da Igreja: “Quem não é tocado pela graça pode ser uma pessoa sem mancha e sem medo, como se diz, mas nunca será como uma pessoa que a graça tocou”. Neste contexto, o Papa explica que essa graça “não faz parte da consciência, é a quantidade de luz” que cada pessoa tem na alma, mesmo quem não tem fé. “Não acredita, mas tem-na (alma)”, diz a Scalfari.
Francisco declara ainda que não teme o fato de a Igreja Católica ser uma “minoria”, admitindo mesmo que isso pode ser “uma força”. “Temos de ser um fermento de vida e de amor, e o fermento é uma quantidade infinitamente menor do que a massa de frutos, de flores e de árvores que nascem daquele fermento”, precisa.
À Igreja Católica compete, segundo o Papa, “a escuta das necessidades, dos desejos, das desilusões, dos desesperos, da esperança” da humanidade. O encontro que decorreu no Vaticano, na sequência de uma troca de cartas entre Francisco e Scalfari sobre o papel da Igreja no mundo e o diálogo entre crentes e não crentes, encerra-se com a promessa de novas conversas sobre o papel das mulheres na Igreja. “Lembro-lhe que a Igreja é feminina”, diz o papa.
SIR/DT
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