segunda-feira, 13 de janeiro de 2014

Tempos diferentes se aproximam

Ninguém deve ocultar as raízes de sua existência. Não se pode esquecer sua própria história, nem seus percalços, e muito menos os fatos marcantes da infância e da adolescência. As férias “coletivas” do mês de janeiro proporcionam esse mergulho no passado, para cada um se conhecer melhor. Neste mês de janeiro/14 pude retornar às minhas origens, passando uns bons dias no meio do povo do interior do Rio Grande do Sul.

Nesta região aludida vige o sempre próspero regime de pequena propriedade rural. Nesta, a criação de “sua majestade o porco”, permitiu a quase todos uma boa casa, com água encanada, energia elétrica, e automóvel à disposição. (O cavalo desapareceu do horizonte). Isso traz como resultante um ser humano muito criativo, independente e de fortes convicções. A prosperidade – com razoáveis exceções -é bastante comum. Parece que o ideal do Papa Leão XIII (Rerum Novarum), de cada família possuir o seu pedaço de terra, se concretizou plenamente.

Mas no horizonte surgem novas ideias. O fundamento da prosperidade se deslocou mais para frente. A base da riqueza, conforme nos ensina o próprio Papa João Paulo II, agora está se tornando o conhecimento, o estudo. Não mais só a terra. No município de Nova Candelária, onde o ideal de pequena propriedade alcançou pleno êxito, foi feita uma pesquisa entre os colonos, e se chegou à conclusão de que em 83% das propriedades, não há sucessor para tocar a lavoura. Os filhos desses agricultores, que tem a vida rural no sangue, foram todos estudar, e ninguém mais quer voltar à roça. Todos querem entrar na vida urbana, que evita o ardor do sol, e contorna as secas e as enchentes. Além de proporcionar as vantagens da vida moderna...

Tudo vai mudar. Inclusive a beleza da vida religiosa. Outrora essa região era um celeiro de vocações sacerdotais. Hoje vários Bispos venderam o Seminário, por não haver facilidade de encontrar vocacionados. É que os pais hoje tem um, no máximo dois filhos. E a disposição de entregar um filho para o serviço da comunidade, se torna muito difícil. Não que não exista mais espírito religioso, e de fé. As circunstâncias tornaram a entrega de um vocacionado para o sacerdócio, ou de uma filha para a vida Religiosa, simplesmente proibitiva. Mas como a graça divina encontra sempre novas soluções, o que diz o salmista é verdade perene: “O Espírito renovará a face da terra” (Sl 103).

Dom Aloísio Roque Oppermann
Arcebispo Emérito de Uberaba (MG)

Fonte: CNBB

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