Palavra vida e fé
quinta-feira, 29 de novembro de 2012
Editorial: Fome, falência da sociedade
A União Europeia de Radiodifusão (EBU/UER) organiza neste dia 29 de novembro a “EUROVISION's Why Poverty? Day”, um especial dia de transmissões em Euro-visão dedicado ao tema da pobreza. O dia se insere no âmbito do projeto “Why Poverty”, (Por que pobreza?), uma iniciativa da “Steps International”, em colaboração com a BBC, e com a DR, Rádio e Televisão da Dinamarca. O evento prevê diversas atividades, entre as quais uma conferência internacional em Copenhagen, que será transmitida para toda a Europa e da qual pariticiparão personalidades políticas de todo o mundo. A Rádio Vaticano também faz parte deste projeto concentrando, nos seus 40 distintos programas, a atenção sobre o tema da pobreza.
O mundo cada vez mais se interroga sobre o “escândalo” que representa a negação do direito básico da humanidade de se alimentar dignamente. Dados de organismos internacionais como a Fao, nos falam de quase 1 bilhão de pessoas no mundo passando fome.
O drama mundial da fome que vivemos é vergonhoso. A situação a que chegamos numa chamada “Civilização Moderna” evidencia de modo gritante os muitos abismos que a mesma construiu como é o caso da fome que mata todos os dias milhares de pessoas. É um mundo de contrastes entre luxo e lixo, riqueza material e miséria.
Mas por que a fome não acaba? Pergunta legítima. Talvez a resposta seja simples, mas ao mesmo tempo complicada. Aparentemente, a fome não existe por carência na produção de alimentos e sim pela má distribuição de riquezas, principalmente nos países pouco desenvolvidos, em que o capital é concentrado nas mãos da minoria e em detrimento à maioria. A ganância de alguns pisoteia o desejo de muitos de ter uma vida digna. Segundo informações de agências de notícias internacionais, é irônico o fato de que, no mundo, é usado mais dinheiro em campanhas contra a obesidade, do que contra a “FOME”'.
A fome deriva, antes de mais, da pobreza. A fome existe em todos os países: voltou inclusive a aparecer nos países europeus, tanto do Oeste como do Leste. Contudo, a história do século XX ensina que a pobreza econômica não é uma fatalidade. Verifica-se que muitos países progrediram economicamente e continuam a fazê-lo; outros, pelo contrário, sofrem uma regressão, vítimas de políticas - nacionais ou internacionais - baseadas em falsas premissas.
Falar da fome não é apenas falar de um fenômeno natural com causas sociais, econômicas e políticas. É falar de uma tragédia global que poderia ser evitada.
A cada 3,6 segundos, uma pessoa morre de fome no mundo. Por dia, são vinte e quatro mil. A grande maioria, crianças desnutridas. E, todavia, o mundo produz mais alimentos de quanto seria necessário para sustentar todos os moradores do planeta. Todos os dias, organizações como a Caritas em todo o mundo testemunham casos de pessoas que passam fome. Somente na área do Sahel, no sul do Sahara, são 18 milhões as pessoas que padecem a fome.
São números que gritam à nossa consciência, que gritam a uma sociedade opulenta que joga no seu lixo diário a vida de milhões de pessoas, onde um pedaço de pão, um copo de leite, um prato de sopa, pode ser a diferença de ter ou não a oportunidade de um outro dia. Somente quem viveu e vive a enorme tristeza da fome, do prato vazio, da falta de esperança, pode entender que a luz desse túnel poder ser acesa somente com a solidariedade, com a partilha, com o interesse pelo próximo, com o fim do egoísmo.
Todo ser humano tem direito ao alimento, à vida. Aí nasce e se configura o dever e a necessidade de políticas que ajudem o desenvolvimento de uma agricultura sustentável que combatam com coerência a pobreza e a fome. É preciso dar acesso aos alimentos através de um comércio justo e regulamentado, sem a especulação do mercado. Um mundo sem fome, com as pessoas bem alimentadas e bem nutridas, é possível.
As vozes dos famintos, ainda contam pouco, e toda e qualquer desculpa encobre o grito desse exército de desesperados; “é a crise econômica, são os problemas climáticos, que fazem com que os preços aumentem” sãos algumas das alegações.
Mas o mais bizarro de tudo isso é que se passa fome sobretudo nas regiões onde os alimentos são produzidos, ou seja, no campo, onde as pessoas vivem da agricultura familiar e não têm seus interesses representados nas instituições econômicas multilaterais. Essa grande maioria silenciosa nos países em desenvolvimento paga o preço da ganancia de um sistema econômico que visa somente o lucro.
Quase 40 anos atrás o então Secretário de Estado norte-americano, Henry Kissinger, prometeu numa conferência internacional sobre a alimentação: “Em uma década, nenhuma criança precisará mais ir para a cama à noite com fome”. Hoje, nossas crianças continuam a morrer de fome.
É necessário o empenho de todos para mudar a situação de milhões de pessoas. Os países ricos, os potentes da terra devem ajudar e dar a sua contribuição. Quem sabe, assim, as populações africana, asiática, latino-americana possam ter melhores condições de vida.
Desde o início do nosso editorial, nos últimos 5 minutos, 83 pessoas morreram no mundo por causa da fome. Um verdadeiro atestado de falência da nossa “sociedade civilizada” no que diz respeito ao homem. (Silvonei José)
Fonte;radio vaticana
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