Fonte:campanha dos devotos
Receber as Cinzas no início da Quaresma não é apagar os pecados e abusos cometidos na festa do Carnaval. Antes, deve ser um compromisso de vivência cristã todos os dias de nossa vida.
A quarta-feira de cinzas é o fim do carnaval e o começo da Quaresma. Uns rasgam as fantasias. Outros “rasgam o coração”. Se acaso havia relação entre carnaval e cinzas, (pecado e arrependimento), hoje não mais. Uma coisa sucede à outra no calendário por razões históricas. Não há interdependência espiritual. Sempre foi errado pensar que receber cinzas apagaria os pecados e abusos carnais da folia. A religião não é “conta bancária”: créditos e débitos. Findo o carnaval o débito seria bem alto e o rito das cinzas uma espécie de “acerto de contas” com Deus. Talvez haja sim quem aproveite os estertores do carnaval se esbaldando até a quarta-feira e misture as cinzas dos bailes e desfiles com as da Igreja. Seria esse um gesto de sincera conversão ou apenas crendice inútil? Nossa maior desgraça é uma só: afastar-se de Deus e viver de modo incoerente o seu amor. Portanto, nenhum ritual exterior purificará alguém dos gozos e excessos dos dias em que “tudo parecia permitido”.
A imposição das cinzas propõe ao fiel um caminho de conversão interior: o desejo de seguir o Cristo padecente, crucificado e ressuscitado, praticando as virtudes da Quaresma. Tempo que intensifica o empenho constante da conversão cristã. É útil lembrar: na Bíblia converter-se é fazer uma reviravolta completa nas idéias, atitudes, costumes e convivência social. Abandonando interesses egoístas e materiais como critérios de relacionamento com Deus e os outros. A fé cristã – no particular e no social – é busca contínua da verdade, justiça, fraternidade e não um tipo de “quebra-galho” dos problemas, doenças, negócios e angústias. Daí a coerência entre fé e vida. Oração e conduta não podem se contradizer. Pedidos, desejos e propósitos proferidos nos ritos religiosos e em devoções pessoais ligam a doutrina, as convicções da fé e a ética a todas as áreas das relações humanas. Se não houver sintonia entre o que se reza e o que se vive, não haverá conversão nenhuma. Seja lá o rito que se fizer!
As cinzas simbolizam a fragilidade humana e a desgraça que o pecado nos traz com o egoísmo, a ambição, a insensibilidade. Ao recebê-las reconhecemos o que somos. Dependentes do Senhor da vida até para nos amarmos uns aos outros. O homem não tem a explicação de si mesmo e do universo. Em seu anseio mais profundo precisa da fé em Deus. Por isso os profetas atribuíam os males do povo à sua infidelidade com Deus. Diziam que era preciso “rasgar o coração e não as vestes”. O costume de rasgar em público uma parte da roupa era um sinal de penitência, arrependimento e dor. Ao lado desse havia outros ritos exteriores: o jejum, a cinza, a esmola. A Bíblia ensina: não bastam os ritos! É imperioso criar novas relações sociais de justiça, direitos, conduta moral e dignidade coerentes com a santidade de Deus. Rasgar o coração significava então abraçar no íntimo e no social a aliança com Deus e o amor aos irmãos em todas as situações.
Os 40 dias do itinerário quaresmal nos associam mais de perto à Páscoa de Jesus. Passamos por um treinamento espiritual: maior atenção à Palavra de Deus, mais tempo de oração, renúncias pessoais livres para ter o autodomínio sobre as más inclinações e intensificar a prática da caridade (Campanha da Fraternidade).
O carnaval é cinza sem vida. A Quaresma é cinza que produz vida, purificando-nos!
Pe. Antonio Clayton Sant’Anna, C.Ss.R.
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