sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013

“Quase um ano depois…”


Queridos amigos, queridos irmãos: seis meses depois de haver chegado a Niterói, propus-me a escrever minhas primeiras observações. No entanto, outras necessidades, naquele momento, me fizeram protelar para quando completasse o meu primeiro ano os pensamentos que me vieram da experiência sumamente enriquecedora de estar entre vocês. Penso que agora chegou o momento. Daqui a alguns dias completo meu primeiro ano aqui. É justo, talvez, necessário, que vocês saibam o que o seu bispo pensa de vocês e do seu modo de viver o mesmo Evangelho, que recebemos de Jesus Cristo através de sua Igreja, no qual queremos permanecer, livres e fieis, para sempre.
Logo de início, percebi que a Arquidiocese de Niterói é uma Igreja viva e dinâmica, com uma tonalidade litúrgica e eucarística que a torna diferenciada: a adoração das quintas-feiras e a adoração perpétua nas paróquias dão testemunho disso. Há grande número de padres e diáconos permanentes, bem preparados e dedicados à missão. São diversas as congregações religiosas masculinas e femininas, existe um bom número de seminaristas e numerosas comunidades de vida. Os cristãos leigos são animados e empenhados no serviço da Igreja, muitos buscando  aprimoramento e formação em cursos oferecidos pela Arquidiocese. Deus seja louvado!
A acolhida e o carinho que aqui me foram ofertados não tem preço. A região, extremamente linda, cheia de paisagens paradisíacas, foi um carinho extra de Deus a esse mineiro longe de casa.
Desafios evangelizadores sempre existirão em toda terra onde o Evangelho for semeado. Sempre será necessário um maior comprometimento. Nossa região se vê em contínuo crescimento, estamos em plena preparação para a JMJ que acontecerá, praticamente, aqui, temos o grande desafio de construir a nova catedral, e também existem as novas exigências e emergências sempre a requerem mais e mais. Deus que nos inspirou o bom propósito de servi-lo, Ele mesmo nos conduzirá sempre mais à perfeição.
Quase um ano depois, as primeiras imagens que me foram impressas acabaram reforçadas. Esta Igreja significa uma certeza para o presente e uma esperança para o futuro. A nossa Igreja tem um caráter missionário e esse é um claro sinal de uma Igreja fiel ao carisma fundador: Ide, anunciai. Deus seja louvado!
Um novo ano se abre. Novas propostas e esperanças. E as velhas sombras de sempre. Vejo a dura condição humana relatada desde as carceragens e os hospitais, passando pela violência e pelos cemitérios.
Às vezes somos tentados a concordar com quem diga que a felicidade parece não fazer parte dos planos da Criação. Mas não é verdade. Não temo viver num mundo sem sentido, porque o sentido é a gente quem constrói. Nesse mundo, carrego a esperança. Apesar dos números mostrarem o contrário, os anos me levaram a crer na experiência de que a delicadeza, o amor e a vontade de entender fazem parte tanto do plano do Criador quanto do mais profundo anseio humano. “O que nos humaniza na maioria das vezes é o fracasso”. Grande parte da miséria moderna reside no fato do homem ter se tornado refém de um mundo de sucesso, medido por grandes números, avaliado por caçadores de audiência, entregue ao vale tudo que não vale nada. Velhas sombras de sempre!
Às vezes, precisamos correr para um abrigo para simplesmente poder respirar. A Igreja quer ser um desses abrigos privilegiados. Quem sabe, nosso maior dom não seja oferecer o ar puro das alturas, para quem corre o risco de morrer asfixiado na poluição dos lugares rasos? Quem sabe, nossa grande missão não seja mostrar, em nós e a partir de nós, que sabemos onde se encontra a água que a samaritana não tinha para matar a própria sede? “Senhor, dá-me dessa água para que eu não tenha mais sede…” (Jo 4,15). Essa é a luz nova! Não é à-toa que o encontro de Jesus com samaritana tenha se dado ao meio-dia: aquele exato momento, de sol a pino, é o único do dia que não projeta sombra.
Nesse final de primeiro ano e início de segundo, eu gostaria que vocês, irmãos e irmãs, recebessem um testemunho de seu bispo. Eu me vejo como alguém que passou a ser visitado pela sensação de que o mundo é sustentado pelas mãos de uma indescritível beleza, que é também uma presença que fala. Não estamos sós. Nunca estamos sós!
Existem sombras, sim. Mas o homem não é um mecanismo de relógio que alguém dá corda e põe para funcionar. Provido do dom da liberdade, ele avança, mesmo correndo sérios perigos, mas avança. E o movimento que o pode afastar de Deus é o mesmo que o leva de volta a Ele.
Existem sombras, sim. Só à noite não há sombra. Se existe a sombra é porque existe a luz. Quanto mais forte a luz, mais forte a sombra insistirá em ser sombra. Existem sombras, sim. Mas só porque existe luz. A esperança que move a fé e fomenta a caridade é que um dia toda sombra seja absorvida pela luz. Nesse dia, Cristo será tudo em todos.
Dedico esse primeiro ano, junto a vocês, à glória de Deus. Dedico esse outro, que chega, à glória de Deus. Dedico todos os meus pensamentos e atos, junto de vocês, à glória de Deus. Para que Cristo seja tudo em todos e em tudo seja Deus glorificado. Amém.
+ Dom José Francisco Rezende Dias
Arcebispo Metropolitano de Niteró
iFonte; SECOM

Nenhum comentário:

Postar um comentário