terça-feira, 24 de setembro de 2013

As mulheres da Bíblia

Dom José - A voz do Pastor“Têmpera… Mulheres têm é têmpera, pura energia e têmpera, pura magia e têmpera, temperatura e paixão. É que as mulheres sempre são, sempre serão, a chave do seu tempo, o charme de uma etapa, o tapa na acomodação, o vírus da alegria o amor e o nó da solidão…” (Têmpera – Gonzaguinha).
Não é de hoje que a arte alcança o que de outra forma seria perdido. Precisei pedir licença à arte para apresentar hoje duas mulheres que, na Bíblia, mostraram sua têmpera: a capacidade de aumentar a rigidez e suportar os abalos da vida. Os homens têm força, mas as mulheres têm resistência: são capazes de passar a noite velando o filho doente e enfrentarem o dia seguinte – maquiadas, prontas e lindas – como se nada houvesse acontecido.
Eva é a mãe. “Adão chamou sua mulher Eva, porque era a mãe de todos os viventes” (Gn 3,20). A História tatuou em Eva a cicatriz da sedutora. No entanto, a verdadeira afirmação da Bíblia é a de Eva ser a mãe de todos os viventes. E registre o fato dessa afirmação ter sido feita depois do relato da queda. Nem a queda tirou de Eva o lugar da maternidade: ela é a mãe da vida, ela tem vida, ela serve à vida.
Cabe à mulher a maior de todas as tarefas: a de apresentar à criança o sentido básico da afirmação da vida. “Que bom que você está aqui!” Enquanto afirmação da vida, a maternidade é consequente afirmação da bondade do mundo. É bom viver aqui. O mundo deve ser o espaço em que estamos seguros, somos bem-vindos e devemos estar. Desde o início, mãe e criação estão ligadas.
Outro lado do feminino, o lado mais triste, se refere ao abandono. A literatura está repleta de casos de abandono. Antigamente, as guerras eram o principal motivo do abandono. Hoje, são as guerras familiares. No Primeiro Testamento, Agar foi abandonada. Sara, esposa de Abraão era estéril. Conforme os costumes da época, ela oferece ao marido a sua escrava Agar para lhe dar um filho. Mas Agar, assim que fica grávida, começa a espicaçar sua patroa. E Sara não suporta a dupla humilhação. Convém aqui destacar um aspecto negativo que, às vezes, aparece no feminino: a inveja. Sara é invejosa. Não suporta a gravidez de Agar. Muitas mulheres não suportam que outras vivam o que elas mesmas se proibiram de viver ou o que não é possível para elas. Ao invés de se alegrarem diante da força de outra mulher, elas acabam combatendo-as. O antídoto do veneno de Sara será o contentamento de Isabel ante a gravidez de Maria. Até o menino se mexeu dentro dela!
Um anjo garante a Agar que se ela voltar, seu filho também terá prodigiosa descendência. Deus ouviu você, Agar (Gn 16,11). Agar, agora, carrega uma promessa. Sabe que é vista por Deus em sua grandeza, e que ninguém poderá tirar isso dela. Ela carrega algo divino, e o mundo não tem mais poder sobre ela.
Meu espaço só me permitiu falar dessas duas mulheres bíblicas. São tantas! Mas aí está o essencial: Deus jamais abandonará você. Jamais abandonou alguém.

+ Dom José Francisco Rezende Dias
Arcebispo Metropolitano de Niteró
Fonte: SECOM/O Fluminense

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