Maria tem 20 anos. Engravidou aos 18. Ainda estava no primeiro ano do ensino médio, mas teve que parar de estudar. Depois que seu filho nasceu, ficou cuidando dele e ajudando na lida de casa. Afinal, não tem vaga na creche pública da comunidade, e o que ela pagaria para coloca-lo em uma particular em período integral é equivalente ao salário que receberia em possíveis oportunidades de emprego, ou até mais. Não compensa. E, assim, já faz dois anos que Maria nem estuda nem faz parte da população economicamente ativa.
Meu personagem fictício acima é baseado em milhares de histórias da vida real que fazem parte da geração “nem-nem”, à qual pertencem 9,6 milhões de jovens brasileiros entre 15 e 29 anos, que nem estudam e nem trabalham - o que representa quase 20% da população juvenil de nosso país. Destes, 70% são mulheres. Muito distante do estereótipo de jovens indecisos e que “não querem nada com a vida”, esse dado preocupante é relacionado a diversos fatores que careceriam de um estudo mais aprofundado.
Sem surpresas
Quando saiu a síntese de Indicadores Sociais (SIS), lançada em novembro do ano passado, este foi o dado que mais chamou atenção, por estratégia de divulgação do próprio IBGE, responsável pela organização da pesquisa.
Não me surpreendi. Fiquei triste porque tenho arquivadas no computador apresentações antigas com dados da juventude brasileira, apurados em 2003, 2004, e um dos dados é exatamente este: 1/5 da população juvenil nem estudava, nem trabalhava. Dez anos depois, nenhuma surpresa positiva nesse aspecto. Claro que outros dados melhoraram, como o aumento de jovens universitários e a diminuição do analfabetismo juvenil. E alguns podem justificar que, com a crise mundial, o desemprego juvenil afetou e afeta todos os países, e a geração nem-nem cresce em todo mundo.
Em todo o mundo
Sim, até certo ponto isso é verdade. A Organização Internacional do Trabalho (OIT) levantou dados em todo o mundo e concluiu que, de 2007 a 2012, a parcela dos jovens "nem-nem" (de 15 a 29 anos) cresceu em 30 de 40 países.
Na Espanha, por exemplo, passou de 16,8 % em 2008 para 24,4 % o percentual de jovens que nem trabalham nem estudam em 2011. Mas destes, por exemplo, mais de 20% têm diploma de curso superior, enquanto que dos jovens brasileiros, apenas 9,3% dos que estão nessa situação tinham o ensino superior completo ou incompleto. No mundo inteiro, uma parcela da juventude passa por isto e em proporções semelhantes, mas as circunstâncias históricas e culturais da realidade latino-americana ou brasileira são bem distintas das da União Europeia, por exemplo, e precisam ser olhadas de forma diferenciada.
No detalhamento da SIS, entre as pessoas de 18 a 24 anos, somente 47,4% das que não trabalhavam e não estudavam tinham o ensino médio completo. Isto que dizer que se nós tivéssemos vagas no ensino superior para todos os nossos jovens de 18 a 24 anos, mais da metade das vagas iria sobrar, porque menos de 50% dos nossos jovens nessa idade têm o ensino médio completo.
Questão feminina
Como já adiantamos, desta vez a síntese detalhou alguns dados, e no recorte de gênero, apontou que 7 a cada 10 desses chamados “nem-nems” são mulheres. E mais: destas, 58,4% já têm pelo menos um filho.
Outro dado complementar é que, das que têm filhos, entre 15 e 17 anos, 71,5% deixaram a escola. Justo as meninas, que por outras estatísticas, são consideradas até mais estudiosas, mais dentro da faixa – série, justo elas largam a escola quando casam ou engravidam.
Então, será que só abrir vagas em capacitações resolve? Só aumentar o número de creches públicas resolve? Claro que não. Estes indicadores ajudam a orientar possíveis políticas públicas, que não podem ser simplesmente um catatau de ações pontuais e desarticuladas.
Mas também devem estimular dentro de nós uma percepção mais ampla da realidade e nos fazer enxergar para além dos números.
Por que tantas jovens engravidam tão cedo? Por que temos como “natural” a punição feminina por engravidar? Quem nunca escutou por aí (eu, por exemplo, ouvi há alguns anos dentro de um ônibus) coisa do tipo: “Tá vendo, foi engravidar? Bem-feito, foi arrumar menino, agora cuide, acabou esse negócio de ir pra escola, fazer curso...”.
Saindo do âmbito feminino, por que tantos jovens saem da escola tão cedo? Por que nós também aceitamos como “natural” que o filho da empregada doméstica da vizinha largue a escola com 16 anos e vá trabalhar em algum emprego precário, tornando-se parte da estatística dos 45,2% de jovens que apenas trabalham? Novas políticas nascem também de mudanças culturais da sociedade.
Estes números não servem só para a gente se espantar por existir tantos jovens aparentemente sem fazer nada. Às vezes eles estão fazendo muita coisa: criando seus filhos, trabalhando ilegalmente, estudando sozinhos. Ou podem estar deprimidos porque tiveram de parar os estudos; porque ficaram desempregados, veem vagas de trabalho sobrando e não conseguem ocupá-las...
Meu personagem fictício acima é baseado em milhares de histórias da vida real que fazem parte da geração “nem-nem”, à qual pertencem 9,6 milhões de jovens brasileiros entre 15 e 29 anos, que nem estudam e nem trabalham - o que representa quase 20% da população juvenil de nosso país. Destes, 70% são mulheres. Muito distante do estereótipo de jovens indecisos e que “não querem nada com a vida”, esse dado preocupante é relacionado a diversos fatores que careceriam de um estudo mais aprofundado.
Sem surpresas
Quando saiu a síntese de Indicadores Sociais (SIS), lançada em novembro do ano passado, este foi o dado que mais chamou atenção, por estratégia de divulgação do próprio IBGE, responsável pela organização da pesquisa.
Não me surpreendi. Fiquei triste porque tenho arquivadas no computador apresentações antigas com dados da juventude brasileira, apurados em 2003, 2004, e um dos dados é exatamente este: 1/5 da população juvenil nem estudava, nem trabalhava. Dez anos depois, nenhuma surpresa positiva nesse aspecto. Claro que outros dados melhoraram, como o aumento de jovens universitários e a diminuição do analfabetismo juvenil. E alguns podem justificar que, com a crise mundial, o desemprego juvenil afetou e afeta todos os países, e a geração nem-nem cresce em todo mundo.
Em todo o mundo
Sim, até certo ponto isso é verdade. A Organização Internacional do Trabalho (OIT) levantou dados em todo o mundo e concluiu que, de 2007 a 2012, a parcela dos jovens "nem-nem" (de 15 a 29 anos) cresceu em 30 de 40 países.
Na Espanha, por exemplo, passou de 16,8 % em 2008 para 24,4 % o percentual de jovens que nem trabalham nem estudam em 2011. Mas destes, por exemplo, mais de 20% têm diploma de curso superior, enquanto que dos jovens brasileiros, apenas 9,3% dos que estão nessa situação tinham o ensino superior completo ou incompleto. No mundo inteiro, uma parcela da juventude passa por isto e em proporções semelhantes, mas as circunstâncias históricas e culturais da realidade latino-americana ou brasileira são bem distintas das da União Europeia, por exemplo, e precisam ser olhadas de forma diferenciada.
No detalhamento da SIS, entre as pessoas de 18 a 24 anos, somente 47,4% das que não trabalhavam e não estudavam tinham o ensino médio completo. Isto que dizer que se nós tivéssemos vagas no ensino superior para todos os nossos jovens de 18 a 24 anos, mais da metade das vagas iria sobrar, porque menos de 50% dos nossos jovens nessa idade têm o ensino médio completo.
Questão feminina
Como já adiantamos, desta vez a síntese detalhou alguns dados, e no recorte de gênero, apontou que 7 a cada 10 desses chamados “nem-nems” são mulheres. E mais: destas, 58,4% já têm pelo menos um filho.
Outro dado complementar é que, das que têm filhos, entre 15 e 17 anos, 71,5% deixaram a escola. Justo as meninas, que por outras estatísticas, são consideradas até mais estudiosas, mais dentro da faixa – série, justo elas largam a escola quando casam ou engravidam.
Então, será que só abrir vagas em capacitações resolve? Só aumentar o número de creches públicas resolve? Claro que não. Estes indicadores ajudam a orientar possíveis políticas públicas, que não podem ser simplesmente um catatau de ações pontuais e desarticuladas.
Mas também devem estimular dentro de nós uma percepção mais ampla da realidade e nos fazer enxergar para além dos números.
Por que tantas jovens engravidam tão cedo? Por que temos como “natural” a punição feminina por engravidar? Quem nunca escutou por aí (eu, por exemplo, ouvi há alguns anos dentro de um ônibus) coisa do tipo: “Tá vendo, foi engravidar? Bem-feito, foi arrumar menino, agora cuide, acabou esse negócio de ir pra escola, fazer curso...”.
Saindo do âmbito feminino, por que tantos jovens saem da escola tão cedo? Por que nós também aceitamos como “natural” que o filho da empregada doméstica da vizinha largue a escola com 16 anos e vá trabalhar em algum emprego precário, tornando-se parte da estatística dos 45,2% de jovens que apenas trabalham? Novas políticas nascem também de mudanças culturais da sociedade.
Estes números não servem só para a gente se espantar por existir tantos jovens aparentemente sem fazer nada. Às vezes eles estão fazendo muita coisa: criando seus filhos, trabalhando ilegalmente, estudando sozinhos. Ou podem estar deprimidos porque tiveram de parar os estudos; porque ficaram desempregados, veem vagas de trabalho sobrando e não conseguem ocupá-las...
Fonte: Salesiano
Nenhum comentário:
Postar um comentário