segunda-feira, 26 de novembro de 2012

Igreja de exatos 400 anos na Fortaleza de Santa Cruz, em Niterói

Igreja, considerada a segunda mais antiga do Rio de Janeiro, abriga imagem de santa que foi trazida pelos portugueses por engano, mas nunca mais deixou o templo. Foto: Guto Maia

Em mais uma reportagem da série sobre as principais igrejas da cidade, Capela de Santa Bárbara esconde mistérios e guarda histórias de fé e de paixão que se tornaram lendas

Há 400 anos foi concluída a segunda igreja mais antiga de Niterói e uma das mais antigas do Rio. Seu nome original foi “Oratória de Nossa Senhora da Guia” e depois Capela de Santa Bárbara. Localizada na Fortaleza de Santa Cruz, em Jurujuba, esse monumento histórico possui características do Século XII e abriga uma das imagens mais antigas da cidade e que veio de Portugal diretamente para o templo, construído sobre uma rocha. Essa imagem possui 1,73 metro de altura e era cravejada de pedras preciosas, que foram roubadas com o passar dos anos.
Durante a Revolta Armada (1893-1894) a capela foi parcialmente destruída. Em 1897, por iniciativa do tenente José Inácio Herthert, a igreja foi completamente reformada. A capela foi reconstruída em 1912, por determinação do então comandante, coronel Inocêncio Ferreira de Oliveira, responsável ainda pela introdução da iluminação elétrica nas dependências da fortaleza.
Uma das lendas que cercam a igreja é que a imagem de Santa Bárbara foi levada para aquele templo por engano e sempre que tentavam removê-la dali, o que na época somente poderia ser feito por mar, aconteciam inexplicáveis reviravoltas nas condições de navegabilidade, impossibilitando seu transporte. Foram muitas tentativas até que finalmente a imagem foi deixada na capela, pois era ali, segundo se entendeu, que a santa queria ficar. 
Santa Bárbara foi uma jovem nascida na cidade de Nicomédia, atual Izmit, Turquia, nos fins do século III. Era a filha única de um rico e nobre habitante desta cidade do Império Romano chamado Dióscoro. Por ser filha única e com receio de deixá-la no meio da sociedade corrupta daquele tempo, Dióscoro decidiu fechá-la numa torre. Por ser muito bela, não lhe faltavam pretendentes para casamentos, mas Bárbara não aceitava nenhum.
Desconcertado diante da cidade, Dióscoro estava convencido que as “desfeitas” da filha justificavam-se pelo fato dela ter ficado trancada muitos anos na torre. Então, ele permitiu que ela fosse conhecer a cidade; durante essa visita ela teve contato com cristãos, que lhe contaram sobre os ideais de Jesus. Pouco tempo depois, um padre vindo de Alexandria lhe deu o batismo.
Dióscoro, após uma viagem, reparou que a torre onde tinha trancado a filha tinha agora três janelas em vez das duas que ele mandara abrir. Ao perguntar à filha o porquê das três janelas, ela explicou-lhe que esta terceira janela tinha a vista de uma cruz que Bárbara havia mandado erguer. Este fato deixou o pai furioso, pois ela se recusava a seguir a fé dos deuses do Olimpo.
Sob impulso e obedecendo à sua fé, o pai denunciou-a ao prefeito Martiniano. Este mandou-a torturar numa tentativa de a fazer mudar de ideia, o que não aconteceu.
Durante sua tortura em praça pública, uma jovem cristã de nome Juliana denunciou os nomes dos carrascos e imediatamente foi presa e entregue à morte juntamente com Bárbara. Ambas foram levadas pelas ruas de Nicomédia por entre os gritos de raiva da multidão. Bárbara teve os seios cortados, depois foi conduzida para fora da cidade onde o seu próprio pai a executou, degolando-a. Quando a cabeça de Bárbara rolou pelo chão, um imenso trovão ribombou pelos ares fazendo tremer os céus. Um relâmpago flamejou pelos ares e atravessando o céu fez cair por terra o corpo sem vida de Dióscoro.
A partir desta história, Santa Bárbara passou a ser conhecida como protetora contra os relâmpagos e tempestades e é considerada a Padroeira dos artilheiros, dos mineiros e de todos quantos trabalham com fogo.

Inspiração para ditado popular - Na Capela em Jurujuba existe uma janela voltada para o mar. Contam-se histórias que esta janela seria utilizada como um ponto de observação de onde o padre que realizava as missas vigiava as embarcações que chegavam ao Rio, dando alarme caso necessário fosse. Dizem então que o ditado “um olho no padre e outro na missa” teria sido criado na Capela de Santa Bárbara.
Reza a lenda também que desde 1906, Iracema, a filha do capitão Potyguara, está sepulcrada na parede da capelinha. Ela, apaixonada por um cabo, teria se lançado ao mar por ter seu amor impedido. Outras duas pessoas também estariam sepulcradas na parede da capela. 
O historiador Julio César Ricato fala sobre a riqueza das histórias das igrejas de Niterói e em especial da capela de Santa Bárbara.“Ela tem muitas histórias e curiosidades que valem a pena ser conhecidas, como as pessoas emparedadas dentro da igreja, que por lá morreram e o padre que rezava a missa de olho na Baía de Guanabara”, disse.
Todos os anos no dia 04 de dezembro é realizada uma missa e uma procissão em louvor a Santa Bárbara nas instalações da Fortaleza de Santa Cruz.
A Fortaleza de Santa Cruz da Barra e a Capela de Santa Bárbara estão ranqueadas no Guia Verde Michelin - RJ, a bíblia do turismo. Atualmente a capela de Santa Bárbara está aberta a visitação pública, de terça a domingo, das 10 às 17h
Fonte; Jornal o Fluminense
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