Segundo a filosofia (Cícero e Boécio), felicidade é o estado constituído pelo acúmulo de todos os bens com a ausência de todos os males. Então, como poderemos chamar feliz um Natal onde houve desprezo, rejeição – Jesus nasceu numa estrebaria por falta de lugar para Ele nas casas e nas hospedarias -, lágrimas, gritos, morte, luto – Herodes, perseguindo Jesus, mandou matar as crianças de Belém – fuga, desterro, pobreza, sacrifícios? Realmente, felicidade perfeita, na definição filosófica, só se encontrará no Céu, na Jerusalém celeste, onde Deus “enxugará toda a lágrima dos seus olhos e já não haverá morte, nem luto, nem grito, nem dor, porque tudo isto passou” (Ap 21,4).
É a grande lição do Natal: é possível ser feliz na dor, no desprezo, no luto, aqui na terra. Aqui, a felicidade consiste em ter Jesus, em estar com Jesus, em amar Jesus de todo o coração, com a esperança de tê-lo perfeitamente um dia no Céu. Talvez tenha sido essa a felicidade que Assis Valente, autor de “Anoiteceu”, não conhecia quando a pediu ao Papai Noel. Talvez por isso tenha se matado, pois ele e ela, como ele imaginava, não vieram.
O cristão é otimista e feliz, por causa da esperança. Mesmo quando sofre. Por isso, o primeiro Natal foi cheio de felicidade. A pobre estrebaria de Belém era o Céu. Ali faltava tudo e não faltava nada. Ali estava a felicidade que a todos encheu de alegria: Jesus.
“A alegria do Evangelho enche o coração e a vida inteira daqueles que se encontram com Jesus. Quantos se deixam salvar por Ele são libertados do pecado, da tristeza, do vazio interior, do isolamento. Com Jesus Cristo, renasce sem cessar a alegria” (Papa Francisco, Evangelii gaudium, 1). O presépio de Belém é o princípio da pregação de Jesus, o resumo do seu Evangelho. Daquele pequeno púlpito, silenciosamente, ele nos ensina o desprezo da vanglória desse mundo, o valor da pobreza e do desprendimento, o nada das riquezas, a necessidade da humildade, o apreço das almas simples, a paciência, a mansidão, a caridade para com o próximo, a harmonia na convivência humana, o perdão das ofensas, a grandeza de coração, enfim, as virtudes cristãs que fariam o mundo muito melhor, se as praticasse.
É por isso que o Natal cristão é festa de paz e harmonia, de confraternização em família, de troca de presentes entre amigos, de gratidão e de perdão. Pois é a festa daquele que, sendo Deus, tornou-se nosso irmão aqui na terra, ensinando-nos o que é a felicidade. É assim que desejo a você, caro/a leitor/a, um verdadeiro ALEGRE E FELIZ NATAL!
Dom Fernando Arêas Rifan
Bispo da Administração Apostólica Pessoal São João Maria Vianney
Fonte: CNBB
Bispo da Administração Apostólica Pessoal São João Maria Vianney
Fonte: CNBB
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