domingo, 3 de agosto de 2014

O santo padroeiro dos presbíteros



João Maria Vianney alimentou a sua cotidiana doação sem reservas a Deus e à Igreja

“O sacerdócio é o amor do coração de Jesus”, costumava dizer São João Maria Vianney, o santo patrono de todos os párocos do mundo, que no dia 4 de agosto celebramos sua memória.

A tocante afirmação do Santo Cura d’Ars permite evocar com ternura e gratidão o dom imenso que são os sacerdotes não só para a Igreja, mas também para a própria humanidade.

Consciente de ser, enquanto padre, um dom imenso para o seu povo, ele dizia: “Um bom pastor, um pastor segundo o coração de Jesus, é o maior tesouro que o bom Deus pode conceder a uma paróquia e um dos dons mais preciosos da misericórdia divina”.

Modelo dos presbíteros

Quantos presbíteros ao longo dos tempos, a exemplo do Santo Cura d’Ars, propõem, humilde e cotidianamente, aos fiéis cristãos e ao mundo inteiro as palavras e os gestos de Cristo, procurando aderir a Ele com os pensamentos, a vontade, os sentimentos e o estilo de toda a sua existência. Como não sublinhar as suas fadigas apostólicas, o seu serviço incansável e escondido, a sua caridade tendencialmente universal? E que dizer da fidelidade corajosa de tantos sacerdotes que, não obstante dificuldades e incompreensões, continuam fiéis à sua vocação: a de “amigos de Cristo”, por Ele de modo particular chamados, escolhidos e enviados?

Grandeza do sacerdócio

Santo Cura d’Ars falava do sacerdócio como se não conseguisse alcançar plenamente a grandeza do dom e da tarefa confiadas a uma criatura humana: “Oh como é grande o padre! Se lhe fosse dado compreender-se a si mesmo, morreria. Deus obedece-lhe: ele pronuncia duas palavras e, à sua voz, Nosso Senhor desce do céu e encerra-se numa pequena hóstia”. E, ao explicar aos seus fiéis a importância dos sacramentos, dizia: “Sem o sacramento da Ordem, não teríamos o Senhor. Depois de Deus, o sacerdote é tudo!”.

Estas afirmações, nascidas do coração sacerdotal do santo pároco, podem parecer excessivas, porém revelam a sublime consideração que ele tinha pelo sacramento do sacerdócio. Parecia subjugado por uma sensação de responsabilidade sem fim: “Se compreendêssemos bem o que um padre é sobre a Terra, morreríamos: não de susto, mas de amor”.

Santo Cura d’Ars explicava que o padre não era padre para si mesmo, mas para todos, porque o ministério sacerdotal estava ligado à paixão do Senhor. “Sem o padre, a morte e a paixão de Nosso Senhor não teriam servido para nada. É o padre que continua a obra da redenção sobre a Terra. O padre possui a chave dos tesouros celestes: é ele que abre a porta; é o ecônomo do bom Deus; o administrador dos seus bens”, dizia.

Presença sagrada

O santo pároco ensinava os seus paroquianos, sobretudo com o testemunho da vida. Pelo seu exemplo, os fiéis aprendiam a rezar, detendo-se de bom grado diante do sacrário para uma visita a Jesus na Eucaristia. “Para rezar bem – explicava-lhes o Cura –, não há necessidade de falar muito. Sabe-se que Jesus está ali, no tabernáculo sagrado: abramos-Lhe o nosso coração, alegremo-nos pela Sua presença sagrada. Esta é a melhor oração”.

Na educação dos fiéis para a presença eucarística e para a comunhão, afirmava: “Todas as boas obras reunidas não igualam o valor do sacrifício da missa, porque ela é obra de Deus”. Ele era convencido de que todo o fervor da vida de um padre dependia da missa: “É de lamentar um padre que celebra a missa como se fizesse uma coisa ordinária! Mas como faz bem um padre oferecer-se em sacrifício a Deus todas as manhãs!”.

Sacramento do amor

Na França, no tempo do Santo Cura d’Ars, a confissão não era frequente, pois a tormenta revolucionária tinha longamente sufocado a prática religiosa. Ele procurou de todos os modos, com a pregação e o conselho persuasivo, fazer os seus paroquianos redescobrirem o significado e a beleza da penitência sacramental, apresentando-a como uma exigência íntima da presença eucarística. Disponível para ouvir e perdoar, a multidão crescente dos penitentes, primeiro da cidade e depois provenientes de toda a França, o deixava retido no confessionário até 16 horas por dia. Dizia-se então que Ars tinha se tornado ‘o grande hospital das almas’. “Não é o pecador que regressa a Deus para Lhe pedir perdão, mas é o próprio Deus que corre atrás do pecador e o faz voltar para Ele. O bom Salvador é tão cheio de amor que nos procura por todo lado”, dizia.

Vocação e missão


Ao ser enviado a Ars, uma pequena aldeia com 230 habitantes, o bispo tinha lhe precavido sobre a precária situação religiosa do lugar: “Naquela paróquia, não há muito amor de Deus”.

O Santo Cura era tão convencido da sua pessoal inaptidão, a ponto de ter desejado diversas vezes subtrair-se às responsabilidades do ministério paroquial, pois que se sentia indigno. Mas, com exemplar obediência, ficou sempre no seu lugar, porque o consumia a paixão apostólica pela salvação das almas, aderindo totalmente à própria vocação e missão.

“Meu Deus, concedei-me a conversão da minha paróquia; aceito sofrer tudo aquilo que quiserdes por todo o tempo da minha vida!” Foi com esta oração que começou a sua missão.

Residindo na própria igreja onde todos o encontravam, soube ‘habitar’ ativamente em todo o território paroquial: visitava sistematicamente os doentes e as famílias; organizava missões populares e festas dos patronos; recolhia e administrava dinheiro para as suas obras sociocaritativas e missionárias; embelezava a sua igreja e dotava-a de alfaias sagradas; ocupava-se das órfãs e das suas educadoras; tinha a peito a instrução das crianças; fundava confrarias e chamava os leigos para colaborar com ele.

Dessa forma, o Cura d’Ars, em seu tempo, soube transformar o coração e a vida de muitas pessoas, porque conseguiu fazer-lhes sentir o amor misericordioso do Senhor.

Cardeal Orani João Tempesta

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